segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Boom Boom Kid - 14/08/10

Frio e chuva em Copacabana: clima perfeito pra ficar em casa vendo Flamengo x Ceará, pra fazer um Fla-Flu com a patroa, ou - pra quem não tem mulher, torce pra outro time ou pra quem deixou pra fazer isso em outros horários - um clima perfeito para encarar o frio e assistir ao show do Boom Boom Kid, que voltava ao Brasil pela n+1ª vez.

Dessa vez lançando seu último álbum, que se falasse atenderia pelo nome de Frisbee (2009), a banda veio tocar pela primeira vez na Rock'n Drinks; foi um show bem intimista; cerca de 50 guerreiros conseguiram vencer a batalha contra a coberta e saíram de casa para encarar uma chatíssima chuvinha de gripe com o objetivo de dar uma boa espiadona na apresentação do argentino mais amado do país (já que Doval não está mais entre nós); Nekro e seu Boom Boom Kid.

Nekro, com sua roupa de pai de santo e bigode de Tiririca, já começou a rodar sua baiana elétrica ao som de Automatic, que abriu o pedaço de noite mostrando que há uma grande possibilidade de ser verdade o boato de que ele caiu em uma caldeira de café quando criança, tamanha energia e disposição. Em seguida o set list - que contou com mais de 30 músicas (haja caneta) - mesclou em sua maioria músicas do Frisbee, por ser o álbum mais recente e portanto ainda não mostrado ao vivo por aqui, com os clássicos da banda. Lê-se "clássicos" como "músicas do Okey Dokey", que é o primeiro álbum do BBK, que fez de Nekro um eterno refém de sua própria obra.

É impossível falar do Kid Bumbum sem ligá-lo diretamente ao Okey Dokey e sem ter que repetir o termo "Okey Dokey" várias vezes. A grande maioria dos fãs conheceram o trabalho da banda ouvindo esse CD e a grande maioria acha os outros CD's mais "fracos". É uma espécie de consenso. Mas um lado realmente complicado da história é o do próprio Nekro. É lógico que o Nekro sabe que, se dependesse do público, ele tocaria o Okey Dokey e iria embora. É claro que ele percebe que quando a banda toca as músicas de seu primeiro disco a coisa funciona de um jeito diferente, do jeito que ele gosta, mas ele nunca admitiu de verdade ser tachado como um artista de um álbum só. Nunca se contentou em viver só de passado e nunca perdeu a gana de produzir novas músicas. Isso parece um detalhe bobo, mas é algo que ouço pouco e achei relevante expor aqui. Pois bem, de forma esporádica e crua, voltemos.

Uma coisa que percebi, foi que quando eram tocadas músicas de fora do Okey Dokey, Nekro tentava empolgar mais os fãs, como quem diz "Olha, eu tô empolgado! Tô balançando os dreads! Essa música não é do Okey Dokey mas é legal também, tá vendo?!" e quando a música fazia parte do álbum (que eu nem vou escrever o nome mais, porque já escrevi pra cacete) era o contrário: o público é que ficava muito mais empolgado que o Nekro. Chega a ser engraçado às vezes, mas não pense que é fácil a vida de quem faz um disco maravilhoso. A vida de monstro da música é muito complicada às vezes e esse é apenas um pequeno ônus pra quem tem o "bônus" de ter feito um disco tão bom na vida.

Bem ou bem, com ou sem Okey Dokey (porra, escrevi de novo, saco), o show continuou com BBK mostrando que não é famoso pela sua energia à toa. Aliás, nada que já não soubéssemos, mas mesmo assim espanta. Tirando e colocando sua cartolinha de Elwood Blues, rasgando sua camisa do Garage Fuzz, pulando que nem sapo pra lá e pra cá, descendo do palco, se jogando no chão, subindo no palco, surfando em cima da galera (!) ao som de Wasabi Song e etc. ele fez um showzaço, desses de assustar até macumbeiro na encruzilhada, mesmo com o público um pouco frio (sem trocadilho, por favor).

Não faltaram Jenny, I Dont Mind, Tomar Helado, My Smiling Fragile Heart, I do, Donde?, Dejame Ser Parte De Esa Locura, cantadas em uníssono, e uma boa quantidade de novas, como Frisbee, Bienvenido Al Club, Rapocappo (onde Nekro mais uma vez desceu do palco com sua bandana pra brincar com quem ainda tinha vergonha de se mexer), Sólo Mi Gatos Mi Comprenden, Pon Tu Corazón En La Música (onde Nekro deixa claro que pra ele o rock é algo muito mais extenso do que parece) e Where's My Pure Cotton Dad?, música do último clipe do argentino, gravado no Brasil (aqui). Mas como nada no mundo é perfeito, faltou a música que dá nome ao primeiro disco do cara, mas logicamente não faltou Brick By Brick, porque o Bombom Kid sabia que, caso não, ia ter churras argentino em Copacabana.

No fim, Feliz, pra coroar a noite com cartola de ouro. Aliás, na verdade, não foi bem exatamente Feliz a música que fechou a noite, foi a penúltima. Mas, sinceramente, sem querer dar desculpas, mas já dando, estava feliz demais pra lembrar, ou melhor, pra me importar com isso. E esse sentimento não pareceu só meu, já que todos também pareciam felizes demais pra se importar em lembrar da última música. Era até difícil lembrar do cobertor que havia ficado em casa. Mas, pra todos os fins, de uma forma ou de outra, o fim foi feliz como havia de ser! E ponto



Abraços.

sábado, 14 de agosto de 2010

Dead Fish - 13/08/10

Existem coisas que não mudam, não adianta. A Mônica sempre descobre o plano infalível do Cebolinha, você - que bebe - sempre consegue beber cerveja mesmo quando sai sem dinheiro, o Corinthians nunca ganha a libertadores e o Dead Fish sempre funciona no Circo Voador. E com base nessa última coisa, os capixabas (que nem são mais tão capixabas assim há algum tempo) voltaram, em uma sexta-feira 13 fria, ao bom e velho Circo Voador para tocar pela segunda vez no ano e ver o que acontece.

O Dead Fish é talvez a banda que mais tenha "máximas" consigo. Uma delas é que sempre tem uma galera (uma boa galera, diga-se de passagem) que passa o mês anterior ao show, inteiro, dizendo que não vai, que já saturou, que não vai porque o ingresso custa caro, que não vale a pena porque daqui a pouco eles voltam e tudo o mais, mas no fim das contas todo mundo acaba indo. E por mais que a expectativa anterior seja de um show meia-boca com relação ao público, sempre na hora do vamos ver a coisa funciona e todos vão. Uma espécie de "síndrome de mulher de malandro". Resumindo, o Dead Fish deu lucro pro Circo de novo. Aliás, provavelmente o Dead Fish seja a banda que mais rende ao circo em público e renda, mas isso não é bem um assunto pra agora.

O "abrimento" da noite, ou melhor, do dia seguinte (já que já não era mais sexta-feira 13) ficou por conta de Grupo Porco de Grindcore Interpretativo, de MG - que quase ninguém viu (mas que muita gente ouviu pelo lado de fora da lona). À primeira vista uma banda bizarra; um trio sem baterista: no lugar da bateria, um notebook com as batidas da "bateria" pré-programadas e áudios aleatórios de passagens e falas de TV somados a um vocal grind, uma guitarra e um baixo, o que tornava o som uma espécie rara de grindcore experimental. Uma coisa dessas realmente difíceis de explicar, daquelas que só ouvindo no myspace da banda mesmo, até porquê uma música vale mais que 5 mil palavras.

Foi um show estranho, de verdade. E nesse show, estranho de verdade, houve espaço - entre os dois Extended Plays (ninguém escreve assim) da banda - pra uma cover de Gigolô Autodidata, da U.D.R., "dupla semi-viva de Rock'n Roll Anti-Cósmico da Morte" do guitarrista da banda, o Porquinho, conhecido também como MC Carvão.

Enfim, não sei se por conta do público que era pouco ou por causa da falta de pressão de som (pela falta de uma bateria acústica) necessária no Grind, mas o show ficou muito espaçoso. E... E pronto. Não quero ter que dizer de novo que foi um show estranho. Mas, a questão não é essa. A questão é "por que não colocar uma banda do Rio de Janeiro para abrir o evento?". Quem vê pensa que no Rio de Janeiro não tem nenhuma banda decente pra abrir o evento e que não tem ninguém que faça hardcore de qualidade no Rio de Janeiro. E ao invés de fortalecer as bandas e a cena daqui em shows com bom publico, colocam bandas que ninguém nunca ouviu falar pra abrir.

Tudo bem, é muito bacana pegar uma banda desconhecida que seja legal e fazer todo mundo conhecer, mas não é melhor valorizar a nossa cena do Rio? Particularmente (e qualquer um tem total liberdade para discordar), acho que não vale a pena usar um espaço tão importante como esse dessa forma sempre. Acho que esse espaço seria importantíssimo pra estender a visão da cena carioca para muitos. Para mostrar o que nós, cariocas que lotamos o circo, temos de bom. Claro, digo isso com todo respeito ao Grupo Porco, que foram chamados pra tocar e tem que ir lá tocar mesmo.

Mas, enfim, não estamos aqui pra isso, acho. Voltemos ao que interessa (e desculpe o transtorno).

Depois do show no mínimo curioso do Grupo Porco, o grito de invocação Dead Fishniano (Hey, Dead Fish, vai tomar no cu!) e a porrada direta, no seco, da banda ao tocar Bem Vindo Ao Clube logo de cara pra mandar o recado de que não ia ser igual aos outros (não tanto). Dessa vez a implicância do Rodrigo (vocal, se é que alguém não sabe) era com o silêncio; não queria. No começo parecia que seriam todas as músicas do show emendadas, o que seria realmente histórico, mas foi só um sonho inocente. Não daria pra fazer algo tão intenso por conta da afinação da guitarra que tem de mudar a todo tempo. A solução então era fazer o publico não parar de bater palma ao fim das músicas.

Na sequência, já com a movimentação clássica de stage's e mosh's, mais 3 porradas no seco: Não, Zero e Um e Modificar. E aí, já começavam os problemas de sempre, mas dessa vez um pouco diferentes. O velho problema de querer ficar em cima do palco o tempo todo diminuiu. Não sumiu, mas diminuiu. Por outro lado o problema de dar stage dive na base voadora amadureceu consideravelmente. Foi impressionante o número de pernadas na cara nesse show. É claro que é na maioria das vezes complicado dar stage's nos shows do Dead Fish por conta do público, que realmente "abre caminho". Mas se jogar em cima de uma pessoa sabendo que vai machucá-la é sacanagem. Infelizmente acaba sendo uma questão de equilíbrio: melhora aqui e piora ali.

Mas o destaque do público não vai para brigas, nem pra cotoveladas na cara, nem pra toda essa galera que parece que bebeu cerveja estragada. O destaque vai para as garotas, em geral, que representaram - as vezes exagerando muito - seja com stage dive's animais (ulhull!), cantando com Rodrigo ou beijando na boca do mesmo, colocando inveja até no Alyand (baixo), que resolveu também tascar uma bitoca, mas no Rodrigo (tudo bem, Alyand, sobra mais pra mim). Tudo isso sem contar a garota que subiu ao palco pra catar o microfone e fazer o pedido inegável para que tocassem "Fragmentos de Um Conflito Eminente". Pedido que, como já disse, era inegável.

E como show do Dead Fish sempre tem algo mais, não caberia aqui fingir que esqueci do stage dive do Rodrigo de cima de um banquinho (de sentar), nem dos guris de skate que entraram de gaiato pela porta de trás do Circo dizendo que iam ao banheiro (eu vi!), driblaram a segurança e foram aparecer em cima do palco (pela parte de trás) com seus skates fazendo o Rodrigo se sentir o Chorão, do Charlie Brown Jr.

O destaque B, além do papo 171 do Rodrigo, ao longo do show, de que ia tocar Just Skate na velocidade da luz - praticamente colocando o doce na boca da criança e tirando -, vai para Noite ,voltando ao set list depois de um bom tempo, Tango, que fez Rodrigo ir as, recatadas, lágrimas e Molotov, que a maioria dos presentes nunca nem ao menos ouviu ao vivo, além de Iceberg, Cidadão Padrão e mais "20 e cacetada" músicas, somando 32 (!!!) canções de patrimônio hardcórico nacional, fechando com Venceremos.

O que impressiona é como os shows do Dead Fish partem de uma união direta entre público e banda, onde, por mais que a banda toque absolutamente bem, o show não irá ser tão legal se o público não estiver realmente "conectado" com os mesmos ideais. Me refiro ao bom senso, à paz, à amizade, ao respeito à mulher do próximo ou simplesmente à união que a cena deve ter, porque senão isso tudo acaba.

Show do Dead Fish, ou melhor, de hardcore é, tem que ser isso: união.



Abraços.