sábado, 12 de março de 2011

Reffer e Merda - 07/03/11

Esse é um dos textos em que o mais difícil é começar, assim como era dificílimo imaginar que nós, amantes do melódico e gostoso hardcore dos 90's, um dia pudéssemos ter a honra de ver o Reffer - e o Merda (que só grava) - tocando no Rio da Janeiro depois de todo um tempo em que só se pôde ficar ouvindo as demos e o disco da banda e chorando de saudade, molhando o teclado do computador e as capinhas das demos.

Pra variar, quem organizou mais essa noite de hardcore foi o pessoal da Partifaria Produções, em mais uma edição d'A Grande Roubada. O local escolhido foi o brilhante Espaço Acústica, na Praça Tiradentes, e a data foi uma segunda de carnaval de tempo maluco, de chove-para, que rendeu, provavelmente, alguns resfriados (ou pelo menos um: o meu).

Às 23hs os blocos foram parando de "brincar o carnaval" (expressão de velho?) e o Rio e o mundo passaram a se voltar para a Sapucaí enquanto os local heros do Plastic Fire faziam a função de comissão de frente, abrindo alas; tocando e tirando a enorme ansiedade dos presentes para o que vinha depois.

Dos shows do PF que me lembro (e não foram poucos), foi a melhor apresentação na questão sonora. Tudo muito bem equalizado, regulado, no volume certo; todo mundo, inclusive o novo baixista, Madão, que entrou na banda após a saída do Puruca e já parece bem instalado, acertando praticamente tudo sem deixar de lado a presença de palco e a interação frenética com o público. Nesta última, o destaque de sempre vai pra Reynaldo, vocal, com seus já clássicos "merenguedengues".

Mesmo com uma set list mais focada no CD novo, A Última Cidade Livre, não faltaram as músicas de sempre, como Contra o Tempo, Há O Amanhã? e Negroativo Negativo, que até cachorro (o Neon) já sabe cantar. De uns tempos pra cá a banda vem amadurecendo escrotamente, provou que não estava lá por acaso tocando com o Reffer e fez um ótimo show.

Em seguida, depois de uns goles de cerveja e algum bate-papo com os amigos (os clichês não são clichês à toa, meu camarada), subia ao palco o Merda; o Conjunto de Musica Jovem Merda - por Mozine, guitarra e vocal da banda.

E agora a "resenha", que prefiro chamar hoje de "historinha de como foi o show", se divide em duas perspectivas:

A primeira é a de quem acha power violence é uma merda, já ouviu o Merda e acha a banda uma merda (sem medo de aliteração). Pra esse ponto de vista, o show foi absolutamente horroroso, uma bosta. Os caras cantam de zoeira, mal, só sabem gritar, não afinam a guitarra direito, não tocam direito querem que tudo se foda e pronto.

A segunda (que por acaso é a minha) é a de quem se amarra num power violence, que iria no show amarradão mesmo se só tocasse o Merda, acha que a graça do negócio é zuar meRmo e adora essa putaria toda do som do trio capixaba. Nesse ponto de vista o show foi exatamente o esperado: maneiraço pra quem gosta da banda, que pogava e cantava junto, e "curioso" pra quem nunca os tinha ouvido e/ou visto, que ficava olhando e dando risadinhas. Aliás, talvez isso defina bem como é uma boa parte dos shows do Merda, acho.

A maior parte da set (que você pode ver se clicar aqui e ver por si só que música você acha que faltou) era do Curtição de Jovens e do Carlos. E se o show teve pontos bem legais esses foram, sem dúvida, a participação de Manfrini, do bom e velho Andrézão, sabe qual a brincadeira que eu mais gosto? Claro Que Não, cantando Francisco e a execução de uma das mais belas versões daquela música daquela banda lá de Brasília que canta aquela música que fala que a gente mora no Brasil. Depois, tocaram mais algumas músicas que não estavam na set, depois tocaram uma música em merecida homenagem ao Maradona e acabou e pronto.

Quando o Merda foi-se embora o tempo parou, voltou. Confesso, sem medo de parecer besta, que me lembrou o saudoso Super-Homem dando voltas ao redor da terra no sentido contrário à rotação, fazendo com que o tempo voltasse; mas dessa vez ele estaria fazendo isso pra assistir a um show do Reffer. Digno, não?

O Reffer demorou a subir no palco: pareciam horas e contar não fazia diferença, mas depois de todo um tempo de "ajeitamento instrumentístico" e da inesperada Interference, tocada pelo DJ, a banda subiu ao palco - com uma formação que vinha com Phil, na guitarra e vocal, Ian, na outra guitarra, Paulista, no baixo, e Gaba Babalu, na bateria - e abriu sua set com uma belíssima Intro emendada a No Answer.

Sim, o Espaço Acústica sorriu, junto com todo mundo. A partir disso, qualquer palavra pode ser criminosa se usada pra falar sobre o show. Foi um show que levou nervos desconhecidos, inexistentes, à flor da pele. Um show que leva música a uma categoria acima da de ciência. Hi-Technology, Hidden Scars, Neutral, Conquest Your Dreams, 3 pontos, Lured, Shift... Não faltou nada (você pode, inclusive, ver a set aqui, se quiser, e ver que não estou mentindo).

E se havia alguma dúvida em relação à presença de palco, entrosamento e qualidade na execução das músicas da parte dos caras, quem esteve lá pôde comprovar que eles não esqueceram de como é tocar juntos, tamanha a perfeição de cada acorde. O público não parou um minuto; sabia que não podiam contar com outra oportunidade dessas, que era já um sonho se realizando. Teve stage, mosh, pessoas cantando em uníssono, chorando, quebrando o nariz, e, se uma palavra pode definir a noite essa palavra é intensidade.

Ponto alto? Water e ponto. Não precisa de explicação maior do que dizer que nela toda a intensidade foi multiplicada à potência que você quiser. No fim do show, Adrift, que trouxe consigo os agradecimentos de Phil a todos que participaram de alguma forma da história do Reffer no Rio de Janeiro. Adrift foi para os presentes a ultima chance de fazer o que quisesse num show do Reffer, de cantar alto de novo, mais uma vez e novamente. Isso tudo sem falar na alma lavada e da leveza que é poder dizer que conseguiu assistir um show do Reffer, sabendo que neste não faltou nada.

Alguns discordam que a música possa se comparar a um orgasmo. Mas não podem impedir que nós, fãs, viventes dela, hardcore ou não, experimentemos sensação parecida, de excitação extrema e alívio redentor, a cada nota feita em uma guitarra, a cada refrão. No meu caso, esse show do Reffer me proporcionou um prazer até orgasmático, com a duração quase imoral de uma hora.

Creio que não falo só por mim quando escrevo, aqui, "Muito obrigado pela noite, Reffer".



Abraços!