Cerca de dois anos após o primeiro show da turnê do divisor de águas “Polisenso“, no Circo Voador, o Forfun voltou à lona mais cheirosa do Brasil para fazer o lançamento de seu mais recente álbum, o “Alegria Compartilhada“ , no último sábado, dia 23/07. Depois de dois anos de debates entre os fãs sobre a mudança no som da banda e suas consequências, o público presente na casa provou que contra fatos não há muito papo: lona lotada pra ver a banda. Adoraria, de verdade, ter contado, pra dizer aqui, quantos haviam por lá gritando o nome do Forfun, mas estava apertado demais para conseguir levantar o dedo.
Ao invés de uma tradicional banda de abertura, o excelente DJ Selecta Conecta foi o responsável por tirar a ansiedade da juventude, com um playlist que ia de Tom Jobim a Planet Hemp. Não que o cara fosse ruim, muitíssimo pelo contrário, como já disse, mas quando o moço parou de tocar, dando o sinal de que a banda estaria chegando, o frenesi do público foi tão grande que parecia inacreditável que pudessem gritar mais depois. Uma pessoa enganada. Quando subiram ao palco, aos gritos de “Puta que Pariu! É a melhor banda do Brasil”, Danilo (guitarra e voz), Nicolas (bateria), Rodrigo (baixo e voz), Vitor (teclados, samplers, escaleta – às vezes guitarra – e voz) e alguns músicos de apoio levantaram a pista à altura do palco.
E quem apostou no bolão do TMDQA! que a música que abriria o show do Forfun seria “Alegria Compartilhada“, pode sorrir, acertou! Só duvido que consigas sorrir mais bonito do que quem estava lá. “Quem Vai, Vai”, tocada na sequência deixou claro, ao menos pra mim, alguém que não é tão velho, mas que viu alguns bons shows por aí, uma coisa: o Forfun está enorme – se houvesse um bueiro lá, explodiria.
“Gruvi Quântico“, “Panorama“, “A Garça“, “Descendo o Rio“, “Dissolver e Recompor“, “Sol ou Chuva“… O show foi feito com base no “Alegria Compartilhada”, como era esperado. “Hidropônica” e “Good Trip” foram as únicas do “Teoria Dinâmica Gastativa” a serem tocadas plugadas; as únicas que fizeram o Pi… O Vitor sair do sampler e pegar a guitarra. Claro, o mosh das antigas rolou e, devido ao calor, as últimas camisas masculinas, inclusive a do Vitor, foram tiradas – pra delírio das meninas que escrevem o nome dele dentro de um coração na última folha do caderno.
Quando a “Alma Transborda” e “Eremita Moderno” foram seguidas pelo cover da belíssima “Imunização Racional (Que Beleza)“, da fase “Racional” do saudoso Sebastião Rodrigues Maia (Tim Maia), que deixou claro, pra quem ainda tinha dúvidas, as influências do eterno síndico do Brasil na nem tão nova fase da banda. Em seguida, algumas palavras: Nicolas com um discurso estrategicamente planejado e decorado há meses, com base na obra de Ramana Maharishi, sobre a aniquilação do conceito de ego; e Vitor dedicando a próxima música, “Minha Joia“, à sua moça.
O destino ainda havia guardado momentos marcantes para a noite. Em “Morada“, algo lindo: todos foram se sentando espontaneamente, aos poucos, como que pra sentir a vibração da música direto da terra abençoada da Lapa; sentir uma liberdade descompromissada incomum em 99% dos shows. Algo talvez inédito até no Circo Voador. Emocionante, histórico e impalavrável. Não me impressionaria se em algum lugar do mundo fosse crime tentar descrever momentos como esse. Há coisas que não têm explicação, como batom na cueca.
Para quem ainda sentia falta das “antigas” canções na set list, um bloco com “Constelação Karina“, “Vou em Frente“, “Costa Verde” e “História de Verão“. Todas tocadas por Vitor e Danilo com guitarra clean e voz leve e com forte coro do público. Mas ainda não foi o bastante para impedir que, depois de que fossem tocadas “Viajante” e “Dia do Alívio“, o público cantasse em forte coro, sem ninguém mandar, a “velha” “Minha Formatura“, deixando, de fato, a banda surpresa – talvez até arrepiada. Quem poderia esperar?
Chegando às quase imperceptíveis duas horas de show, com o público ainda feliz, mas mais cansado, o Grupo contou com a ilustre participação de Black Alien, que saiu do disco e apareceu no palco do Circo para cantar com boca, língua, dente, corpo e alma em “Cosmic Jesus“. Um bis de “Minha Joia” e a linda “Pra Sempre” finalizaram a noite, já madrugada, de uma forma tão sublime que não pediram bis. Era a dose certa da melhor droga: a música.
O Forfun tem uma característica de que gosto muito: trata bem os fãs, são humildes. E que continuem assim, pois há pessoas que choram como se tivessem terminado com o namorado quando tocam Cigarras e que os amam de verdade. Durante todo o show, o público não se cansava de gritar, entre uma música e outra, o grito que dizia que o Forfun era a melhor banda do Brasil. Os caras foram humildes, sinceros, falando que não, que não era bem assim, que, né… Menos… Citaram outras bandas do Brasil, como o Los Hermanos, o Dead Fish... O Limp Bizkit, mas, vai discordar do público…
Abraços.
(Texto escrito inicialmente para o Tenho Mais Discos Que Amigos!)
Nenhum comentário:
Postar um comentário